segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

COMO NASCEM AS RAINHAS

Como surge a idéia de uma narrativa? Já li e ouvi depoimentos apontando as origens mais variadas, incluídos os modus operandi. Nas minhas oficinas, sempre relato algumas histórias de como surgiram alguns dos meus contos. Minha intenção, acredito que bem sucedida, é exemplificar, para os oficineiros, o processo de criação.
Um bom exemplo é o A Rainha do Egito (A ponto de explodir, 2008 e Coletivo 21, Autêntica, 2011).
Gosto, desde que o disco foi lançado, da canção Rainha do Egito, de Jorge Mautner (As mil e uma noites de Bagdá, 1976). Ela tem um clima hippie que me agrada. Ponto.
Em alguma manhã de... 2006, digamos, vi uma mocinha descalça, carregando as sandálias, com cara de quem estava terminando una bella notte (como diria o Guedes). A imagem ficou registrada, sem qualquer intenção literária consciente. Ponto 2.
Em alguma noite, muitos meses depois, estava em um bar, à minha frente, duas moças bebiam e conversavam. A certo momento, notei que uma delas estava com os pés descalços sobre a cadeira, sob a mesa. Imediatamente pensei algo como: “às três da manhã, Dayse está dançando...”; em seguida a canção do Mautner tocou na minha cabeça. Sorri, peguei o caderno e anotei a frase. Ponto 3.
Eu tinha certeza que eu tinha um conto. Com os dois elementos (aquela moça e a canção) eu sabia, por quilômetros rodados, que seria questão de sentar e desenvolver uma história. Qual história? Ainda não sabia. Eu tinha elementos materiais para começar e deixar que alguma história (usando os trastes que acumulo no ferro velho da minha cabeça) se contasse.
Às cinco da manhã daquela noite, acordei, peguei o caderno e em duas horas escrevi a primeira versão de A Rainha do Egito.

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