terça-feira, 29 de maio de 2012

O TEXTO E A VOZ DE ELVIRA

   
   Sempre ouvi alguém dizer que, lendo texto meu, "me ouvia falando". Gostava disso, sem maiores entendimentos. Até que me dei conta, em 2008, após lançar "A ponto de explodir", num insight: o que acontece é que quando escrevo, reproduzo minha fala; mais que isso: falo ensaiando o que mais tarde vou escrever.
   Gostei de concluir isso. Nada mudou na escrita e, claro, muito menos na fala. (Seria engraçado, eu acharia muito engraçado, ficar preparando meu texto antes de falar, no dia a dia, já antevendo o texto escrito no futuro conto, por exemplo.)
   Lendo agora o primeiro capítulo de O que deu para fazer em matéria de história de amor, de Elvira Vigna, percebi que eu estava ouvindo sua voz (ela esteve há pouco em BH, falou num seminário). Gostei disso também. Foi divertido, uma experiência de intimidade, como se a ouvisse enquanto escrevia. Não me lembro de ter passado por isso mesmo com autores dos quais privo intimidade. Previ que a leitura do romance seria ainda mais interessante com isso.
   Mas no segundo capítulo, e do terceiro em diante, a conexão caiu, foi-se a magia. Elvira escreve (também neste livro) de um modo que me envolve, me mantém ligado no texto, sua construção (nada explícita, nada fácil); um ritmo próprio; um uso irônico dos clichês; metalinguagem a serviço da narrativa; personagens que surgem aos poucos, sem retratos falados.
   Ainda não posso dizer do enredo, não cheguei na metade do volume, mas intuo que é uma história de adiamento.

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