segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

AMIGOS OCULTOS

  O QUE EU QUERO DO MEU AMIGO OCULTO

Dinheiro vivo, logicamente.
Ou meio quilo de ouro...
Coisas simples: um dente
sem cárie, um fígado novo,
o poder político pro povo,
uns trinta discos de jazz,
caminhos leves para meus pés
ou a coleção completa dos Beatles;
asas maiores para mais altos voos,
uma passagem para a Itália,
o fim, afinal, da mais-valia,
livros! o que mais posso querer
além de bons livros para ler?
(Também já estão rotas
minhas velhas e feias roupas...)

Mas se está parecendo
pouco o que estou querendo,
ou se você acha, enfim,
que só penso em mim,
mudo o tom desta relação:
o estado, os partidos e a moral vil
você põe num caminhão
com destino à putaquepariu.
Aí, com o terreno preparado,
você busca no mercado,
para todas as crianças,
alegria e segurança;
os atores devem ter
quem os possa ver;
escritores, editoras para seus livros;
os andarilhos, estradas livres;
as mulheres, mais orgasmos;
os políticos, pasmos,
menos chances de mentir.
Quero ver também ruir
os pilares da sociedade
que imbecilizam a humanidade.

Bom, sei que meu amigo, nesta ocasião,
mesmo oculto, não é nenhum papai noel.
Então só peço, antes de pegar o chapéu,
que ele nunca seja meu inimigo.
Oculto ou não.

(Natal de 1987)

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