sexta-feira, 5 de abril de 2013

"OS NOVOS CRUZADOS" 4

   Às cinco horas já havia um grupo na casa de Ângelo, umas oito pessoas. Refrigerante, suco de caixinha, suco de jarra, água, um isopor com umas latinhas de cerveja, dois pratos de papelão com salgadinhos da padaria... Ele não perderia a oportunidade de falar da associação, ia fazer aquela vaselina, aproveitando o assunto das pichações.
   - E aí, Cris, conseguiu pesquisar o desenho?
   - Deu não, meu irmão ficou no computador o tempo todo fazendo trabalho de escola.
   - Parece coisa da Idade Média, não parece? - seu Sílvio tentou contribuir.
   - Aqueles símbolos das cruzadas, né? - eu emendei.
   - São "os novos cruzados" - dona Sônia batizou.
   - Mas o que eles querem?
   Não vi quem perguntou, porque o Ângelo chegou esbaforido com uma bandeja de copos e já tentando impor:
   - Boa tarde, pessoal! É um prazer recebê-los na minha modesta morada. Vizinhos unidos! Que coisa boa de se ver.
   Eu sabia. A conversa seria demorada. Ainda mais que os portões de sua "modesta morada", a maior casa da rua, não foram marcados...
   Tentei manter a pauta:
   - Acho que são vândalos ou artistas, alguma intervenção poética...
   - Que nada - Cris me cortou -, aposto que é alguma coisa de religião mesmo, tipo uns "novos cruzados".
   - É pode ser...
   - Gente! Vocês ficaram sabendo? - a voz vinha da escada que trazia à varanda. Era a Norminha:
   - Teve o maior quebra-pau no bar da Loura!
   - Aqueles cachaceiros - Ângelo decidiu.
   - Não, não foi não! Foi um linchamento! Uns caras de fora de repente arrancaram o couro daquele moço que mora do outro lado da linha, aquele do grupo espírita.

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