sexta-feira, 1 de novembro de 2013

RODRIGO LESTE LÊ NOVELLA


Parabéns pelo seu Novella, que arrisco a definir como um livro blues.


A triste paisagem urbana dos seus contos, as personagens, às vezes sórdidas, às vezes mórbidas, mas sempre acachapadas por uma realidade desumana e opressora, remetem à Chicago e outras metrópoles americanas (e, por que não, do mundo?) onde os negros e pobres e fudidos em geral arrancam de seus instrumentos e gargantas os lamentos que expressam espanto e perplexidade diante do mundo-cão que avança contra os seus calcanhares. – Sebo nas canelas, moleque, o bicho é feio!


Por sair do lamento e partir pro escracho rasgado, a canalhice deslavada, o cinismo sem fronteiras, gostei demais do conto Pra cima com a vida!, o melhor do livro, na minha opinião (ri à beça!).


Apesar de todo o cuidado que sei que você tem com o acabamento do texto, a técnica não se sobrepõe, o truque fica bem guardado e os contos trazem o frescor da espontaneidade criativa, do escrever “em cima do joelho”, do estilo “desleixado” de quem teve a ideia, a colocou no papel e pronto: foi pro forno (sem permitir ao leitor pensar que toda a obra foi revista inúmeras vezes até que você se dê por contente com o “resultado final”. Final???).


Como Jimi Hendrix que antes de morrer, dizem, tinha a ideia de fazer experimentações com música sinfônica; como Picasso que sempre que era rotulado como “cubista”, ou “num sei o quê”, mudava tudo e aparecia com inusitado estilo que desconcertava público e crítica, acredito que o atributo do artista é experimentar sempre.  - Atitude que tira o nosso conforto de navegar no universo do já conhecido, dominado e bem sucedido. – Assim, sem embromações, tomo a liberdade de sugerir que você parta pra quebradeira, rompa com tudo que já fez antes, destrua as trilhas e caminhos já percorridos em Novella e nos seus livros anteriores e parta para outras tentativas e experimentações. Queime navios, mano, pode te fazer bem!

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